sábado, 3 de maio de 2014

Uma curiosidade sobre a história da rádio

Em 1909 foi atribuído o prémio Nobel da Física como reconhecimento pelos contributos concernentes ao desenvolvimento da telegrafia sem fios. Um dos contemplados foi Braun cujos maiores contributos se centraram na introdução do circuíto fechado de afinação acoplado à antena por intermédio de indutores no transmissor e o recurso a cristais no circuito receptor. No seu discurso de recepção do prémio supracitado descreveu como conseguiu configurar cuidadosamente três antenas de modo a enviar um sinal direccional, invenção que foi fulcral no desenvolvimento do radar e da tecnologia de "antenas inteligentes". Entre os seus trabalhos encontra-se a invenção do díodo de cristais muitos anos antes do desenvolvimento da rádio. O outro contemplado foi Marconi cuja principal realização foi a transmissão de um sinal através do Oceano Atlântico. Porém, os esquemas que utilizou basearam-se essencialmente no aperfeiçoamento das descobertas de outros inventores tais como Branly, Lodge, Popov e especialmente Tesla segundo o qual teriam sido violadas dezassete das suas patentes. O seu principal contributo tecnológico para o desenvolvimento da rádio talvez tenha sido a invenção do detector magnético.
Entre os grandes feitos pioneiros da história da rádio encontra-se a apresentação pública de Bose onde este demonstrou a possibilidade de incendiar pólvora e tocar um sino por intermédio do envio de um sinal electromagnético. Este cientista foi o primeiro a recorrer ao uso de junções de cristais semicondutores em receptores de radiofrequência no seguimento das ideias de Braun sobre a condução unilateral dos cristais. O detector que desenvolveu com esse propósito foi o percursor dos componentes electrónicos actuais.
No interessante tema que é a história da rádio é possível encontrar um exemplo onde o mérito das descobertas científicas se imiscui com as suas aplicações comerciais, envolvendo instituições de patentes, tribunais e até mesmo a atribuição de prémios científicos. Sem delongar mais neste tema fica aqui uma carta (ou parte dela) de Bose para o seu amigo Tagore onde este, referindo-se a Marconi, lamentava a conjuntura do país onde se encontrava.

Um pouco antes da minha palestra, um proprietário multimilionário de uma companhia telegráfica muito famosa telegrafou-me um pedido urgente para se encontrar comigo. Respondi-lhe que não podia disponibilizar-lhe o meu tempo para essa reunião. Como resposta, disse que viria ter comigo pessoalmente e que iria chegar com formulários para requisição de patentes. Fez-me uma proposta cuidadosa para que não divulgasse os resultados das minhas valiosas pesquisas na palestra de hoje: “Está aí envolvido muito dinheiro – deixa-me tratar da patente por ti. Não fazes ideia do dinheiro que estás a deitar fora” etc. Claro, “terei apenas metade dos lucros – financiá-lo-ei” etc.


Este multimilionário abordou-me como um pedinte para envidar mais lucros. Amigo, devias ter visto a ganância e a ânsia por dinheiro neste país – dinheiro, dinheiro – que terrível e entranhada ganância! Se alguma vez ficasse encalacrado nesta terrível armadilha, não teria mais saída! Sabes, a pesquisa que me dediquei a realizar está acima dos lucros comerciais. Estou a ficar velho – não tenho tido tempo suficiente para fazer o que me propus fazer – recuseio-o.

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