A substância à qual as folhas das
árvores e das plantas herbáceas devem a sua cor é pouco conhecida; nenhum
trabalho ex-professo foi envidado
sobre este tópico; e a matéria verde designada também, em algumas análises
vegetais, pelo nome de resina ou fécula verde, ainda não foi classificada
entre os manuais imediatos dos vegetais, e não constitui nenhum capítulo nos
tratados de química dos mais modernos. Contudo, o papel que desempenha na
economia vegetal, a sua abundância na natureza, as propriedades interessantes
já reconhecidas por muitos químicos que se ocuparam das análises vegetais, e
particularmente por Vauquelin, deveria tê-los envolvido a estudar muito
especialmente esta substância. Não nos propomos preencher a lacuna que acabámos
de observar; mas lembrando os factos já conhecidos e reportando muitas
observações que nos são particulares, reuniremos alguns materiais para a história
desta substância notável.
Primeiro, procurámos obter a
matéria verde no estado de pureza; e, para este efeito, tratámos por álcool
desumidificado e à temperatura ordinária, o bagaço bem espremido e bem lavado
de muitas plantas herbáceas. O licor alcoólico filtrado era de um verde bonito;
e, por intermédio de uma evaporação cuidada, forneceu uma substância dum
verde-escuro e com aparência resinosa. Esta matéria, reduzida a pó e tratada
com água quente, adquiriu um grande grau de pureza, libertando um pouco de
matéria colorante ou um castanho extractivista. Uma quantidade de matéria verde
também se dissolveu na água a ferver; mas foi em parte separada pelo
resfriamento. A matéria verde, assim obtida, possui agora todas as propriedades
conhecidas; dissolve-se inteiramente no álcool, o éter e os óleos e o cloro
destroem imediatamente a sua cor verde.
Exposta ao ar durante muitas
semanas, a matéria verde não sofreu qualquer alteração: apresenta os mesmos
corantes alcoólicos tão coloridos como se fosse novamente preparada. Submetida
à acção do calor, esta amolece mas não se funde; e se o fogo for aumentado
decompõe-se, fornecendo água, óleo, um pouco de ácido acético e gás de hidrogénio
carbonado: não encontrámos qualquer traço de amoníaco nos produtos.
Um fragmento de matéria verde
seca, exposta à chama de uma vela, inflamou-se; continuou a arder por si só com
uma chama menos alongada do que as que apresentam as resinas, e daí resultou um
carvão que conservou a forma do fragmento da matéria, e que se incinerou em
parte no ar atmosférico.
A acção dos ácidos sobre a
matéria verde é deveras notável. O ácido sulfúrico mesmo concentrado
dissolveu-a a frio sem a alterar; e este ácido, misturado em partes iguais com
uma solução alcoólica de matéria verde, não lhe causou qualquer alteração. A
solução de matéria verde no ácido sulfúrico desagrega-se e abandona uma porção
de matéria colorante, quando lhe adicionamos água; resta contudo uma quantidade
muito notável no licor, e podemo-la extrair, saturando o ácido com um alcali ou
um carbonato alcalino.
A propriedade que possui a
matéria verde de se dissolver no ácido sulfúrico, sem a alterar, parece
aproximá-la do índigo. Contudo, as experiências que realizámos para conservar
estas duas substâncias, uma na outra, mostraram-se infrutíferas; não
consideramos ser necessário reportá-las.
O ácido hidroclórico altera
sensivelmente a matéria verde, e fá-la adquirir um tingimento amarelado que não
pode mais perder.
O ácido nítrico age
energeticamente sobre esta substância e de uma maneira inteiramente particular.
Primeiro, destrói a cor verde para substituí-la por um amarelo acinzentado: a
folga de ácido nitroso manifesta-se e a matéria desaparece quase em toda a sua
totalidade, através da sua dissolução no ácido, sobretudo a quente. Como último
resultado, obtemos uma matéria dum branco sujo, sem sabor ou odor; solúvel no
ácido nítrico concentrado, insolúvel nos alcalis e na água, não dando qualquer
traço de ácido oxálico nem múcico. Contamos voltar a estes resultados
singulares.
O cloro destrói com maior
velocidade a cor verde desta substância de matéria: separa-a do seu dissolvente
sob a forma de uma matéria escamosa, amarela, deixando de manter qualquer
relação com a substância de onde proveio. Este facto foi observado por Proust
(Journal de Physique).
O iodo actua de uma maneira
análoga à do cloro; mas a sua acção é extremamente lenta e insensível nos seus
primeiros instantes.
A acção dos alcalis sobre a
matéria verde é, em parte, conhecida: sabemos que as soluções alcalinas
dissolvem-na sem a alterar, parecem reavivar-lhe a cor. Se saturarmos o alcali
por um ácido fraco, a matéria verde é, em parte, precipitada sem alguma
alteração.
Os sais neutros não proporcionaram
qualquer acção sobre a matéria verde, o muriato de estanho causou contudo uma
ligeira precipitação; mas, se depois de adicionar um sal terroso ou metálico
numa solução alcoólica de matéria verde estendida de água, vertermos um alcali
ou um subcarbonato alcalino, fazendo-se um precipitado abundante da base que,
na maior parte dos casos, conduz a matéria verde ao estado de combinação. Foi assim
que preparámos com esta substância retirada de diferentes plantas, e dos sais
de cal, de alumínio, de magnésio, de chumbo e de estanho, lacas verdes, de
várias cores, conforme a planta e o sal empregue.
Fomos bem-sucedidos igualmente e
com muito menos custos a preparar estas lacas, adicionando ao suco das plantas,
obtido simplesmente por expressão e suficientemente estendido, um sal terroso
que decompusemos por um alcali ou um alcali subcarbonato. Preparámos, por
intermédio deste procedimento, mais de vinte lacas diferentes entre si,
conforme a espécie do vegetal. Notamos aqui que a mesma planta, nas mesmas
circunstâncias, fornece sempre uma laca com a mesma nuance.
A maior parte destas lacas, preparadas
após várias semanas, não sofreram alterações por parte da luz; contudo a
matéria verde retirada das árvores resinosas, tais como o pinheiro e o abeto,
forneceram lacas cuja cor foi alterada. Este fenómeno será devido, como
presumimos, a um pó de resina que continuou misturado com a matéria verde, e
que é muito difícil de isolar inteiramente.
Experimentámos aplicar estas
lacas sobre papel esmagado em cola; obtivemos papéis pintados cuja cor não foi
alterada. Ao preparar estas lacas, notámos que estas realizações com o mesmo
vegetal e várias bases eram tanto mais verdes quanto mais a base fosse alcalina;
assim as lacas feitas com cal são geralmente mais belas do que as obtidas por
magnésio ou alumínio. Não duvidamos que podemos, nas artes, tirar um grande
partido destas lacas, substituindo o verde de scheele cuja preparação é sobretudo
perniciosa.
Entre as lacas preparadas por
este método, notámos que as que são fornecidas pelas ervas comuns das pradarias
que como sabemos é composta por diversas gramíneas; as fornecidas pela cicuta e
várias outras umbelíferas: as bagas dão igualmente um forte belo; a cicuta dá
uma laca de um amarelo canário muito notável; a luzerna produz um verde muito
claro.
Contámos, numa época mais
favorável à vegetação, preparar um maior número destas amostras, e prosseguir com
um pouco mais de sucesso as nossas investigações sobre os meios de combinar a
matéria verde com os tecidos vegetais e animais; com vantagens das mais
importantes para a tinturaria, e que não presumimos ser impossível de atingir.
Investigámos também a acção que
pode ter, sobre a matéria verde, as substâncias vegetais que podemos encarar
como reagentes químicos. Assegurámo-nos que entre os ácidos vegetais, somente o
ácido acético a dissolve de uma forma muito notável; a água não a pode
precipitar nestas soluções; é solúvel nos éteres sulfúrico e acético: os óleos também
fixam o solvente, sendo a acção dos óleos voláteis menos marcada: sabemos enfim
que se dissolve nas gorduras.
Segue-se dos factos contidos
nesta nota que a matéria verde dos vegetais, impropriamente designada por fécula ou resina, é uma substância particular que deve ser classificada entre
as substâncias vegetais muito hidrogenadas; que deve ser separada das resinas;
que se aproxima de muitas matérias corantes tais como a orcaneta, a curcuma, do
sândalo vermelho; e que merece, pelas suas propriedades e pelo papel que
desempenha na economia vegetal, de ser considerada como um princípio imediato
dos vegetais: será primeiro necessário de designá-la por um nome particular.
Não temos nenhum direito de
nomear uma substância conhecida há muito tempo, e a história da qual extraímos
alguns factos; contudo, propomos, sem lhe dar qualquer importância, o nome de clorofila, de chloros, cor e φύλλο, folha: este nome indicará o papel que desempenha na natureza.
Quanto às vantagens que podemos tirar
das lacas de onde preparámos várias amostras, somente o tempo e a utilização as
poderão identificar.
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