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quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Invarintes nas equações do movimento

 As equações do movimento em mecânica obtêm-se da função L=TU onde T é a energia cinética e U é a  função potencial de onde se podem obter, por derivação, as forças. Estas escrevem-se na forma

ddt(Lxi)Lxi=0

em que

xi=dxidt

Por exemplo, a função L para o caso de um conjunto de N partículas livres é dada por

L=Nj=112mj(x23j2+x23j1+x23j)

em que as coordenadas rectangulares da partícula j de massa mj são dadas por (x3j2,x3j1,x3j) de onde resultam as equações

mjd2xjdt2=0

cujas soluções indicam que as partículas percorrem linhas rectas com velocidades constantes.

Considere-se um sistema mecânico descrito por n coordenadas x1,,xn e seja a função

F(x1,,xn,x1,,xn)=df(x1,,xn)dt

A regra da derivação permite escrever

F(x1,,xn,x1,,xn)=nifxixi

e, portanto,

Fxi=fxi

Se se derivar a equação anterior em ordem ao tempo obtém-se

ddt(Fxi)=xinj=1fxjxj=Fxi

isto é,

ddt(Fxi)Fxi=0

Observa-se que o sistema definido pelas equações

ddt((L+F)xi)(L+F)xi=0

descreve o mesmo sistema mecânico. Multiplicando as equações anteriores por xi e somando obtém-se

ni=1xiddt((L+F)xi)xi(L+F)xi=0

A regra da derivada do produto permite determinar a equação equivalente

ni=1ddt(xi(L+F)xi)xi

Porém,

\sum_{i=1}^n{x''_i\frac{\partial(L+F)}{\partial x'_i}+x'_i\frac{\partial(L+F)}{\partial x_i}}=\frac{d(L+F)}{dt}-\frac{\partial L}{\partial t}

A substituição na fórmula anterior permite obter

\frac{d}{dt}\left\lbrack-(L+F)+\sum_{i=1}^n{x_i'\frac{\partial(L+F)}{\partial x_i}}\right\rbrack=-\frac{\partial L}{\partial t}

Se L não depender explicitamente do tempo então conserva-se a quantidade

E=-(L+F)+\sum_{i=1}^n{x_i'\frac{\partial(L+F)}{\partial x_i}}=-L+\sum_{i=1}^n{x_i'\frac{\partial L}{\partial x_i'}}

No caso do oscilador harmónico simples a uma dimensão, por exemplo, tem-se

L=\frac{1}{2}mx'^2-\frac{1}{2}kx^2

cuja equação do movimento se escreve como

m\frac{d^2x}{dt^2}-kx=0

De acordo com o que foi atrás determinado, dado que L não depende explicitamente do tempo, conserva-se a quantidade

E=\frac{1}{2}mx'^2+\frac{1}{2}kx

Considere-se a família de tranformações invertíveis definidas pelas expressões

x_i=x_i\left(\chi_1,\cdots,\chi_n,\theta\right)

onde \theta é o parâmetro da família de tal modo que

\chi_i\left(x_1,\cdots,x_n,0\right)=x_i

Suponha-se ainda que, após a transformação na função L, esta não dependa desse parâmetro, isto é,

\frac{\partial L}{\partial \theta}=0

Ora,

\frac{\partial L}{\partial \theta}=\sum_{i=1}^n{\left(\frac{\partial L}{\partial x'_i}\frac{\partial x'_i}{\partial\theta}+\frac{\partial L}{\partial x_i}\frac{\partial x_i}{\partial \theta}\right)}=\sum_{i=1}^n{\left(\frac{\partial L}{\partial x'_i}\frac{\partial}{\partial t}\left(\frac{\partial x_i}{\partial\theta}\right)+\frac{\partial}{\partial t}\left(\frac{\partial L}{\partial x'_i}\right)\frac{\partial x_i}{\partial\theta}\right)}

onde se consideraram as equações do movimento. A derivada em ordem a t foi aqui considerada como parcial relativamente ao parâmetro \theta. A regra do produto permite determinar que

\frac{\partial L}{\partial \theta}=\frac{\partial}{\partial t}\sum_{i=1}^n{\frac{\partial L}{\partial x_i'}\frac{\partial x_i}{\partial\theta}}=0

É, portanto, conservada a quantidade

\sum_{i=1}^n{\frac{\partial L}{\partial x_i'}\frac{\partial x_i}{\partial\theta}}

que é função dos \chi_i e respectivas derivadas temporais. Quando \theta=0 tem-se \chi_i=x_i e, neste caso, a quantidade depende dos x_i e suas derivadas temporais. Se a função L mantiver a mesma forma após as transformações, as equações em \chi_i, nomeadamente

\frac{d}{dt}\left(\frac{\partial L}{\partial \chi_i'}\right)-\frac{\partial L}{\partial\chi_i}=0

terão a mesma forma que as equações correspondentes em x_i, podendo variar as constantes de integração e a quantidade que se conserva no tempo não depende do parâmetro \theta. Designando a quantidade por k, resulta que, sendo a solução do sistema nas coordenadas originais dado pelas funções

x_i\left(x_1^0,\cdots,x_n^0,\left(x_1'\right)^0,\cdots,\left(x_n'\right)^0,t-t_0\right)

A constante k dependerá dos x_i^0 bem como dos \left(x_i'\right)^0. Sem perda de generalidade, pode-se assumir que se pode escrever \left(x_n'\right)^0 como função das restantes constantes e de k. Segue-se que

\chi_i=x_i\left(\chi_1^0,\cdots,\chi_n^0,\left(\chi_1'\right)^0,\cdots,k,t-t_0\right)

em que as constantes \chi_i^0 e \left(\chi_i'\right)^0 se obtêm das suas congéneres a partir das transformações.

De modo a ilustrar o que foi apresentado, considere-se a função L para o caso de uma partícula livre que se move a uma dimensão,

L=\frac{1}{2}mx'^2

A função mantém a mesma forma se se considerar a família de transformações

x=\chi+\theta

das quais resulta

\left\lbrace\begin{array}{l}x_0=\chi_0+\theta\\ x_0'=\chi_0'\end{array}\right.

isto é,

L=\frac{1}{2}m\chi'^2

De acordo com o que foi atrás exposto, conservar-se a quantidade

k=mx'=m\chi'

A solução do problema é dada, em cada sistema de coordenadas, por

\left\lbrace\begin{array}{l}x\left(x_0,k\right)=x_0+\frac{k}{m}\left(t-t_0\right)\\ \chi\left(\chi_0,k\right)=\chi_0+\frac{k}{m}\left(t-t_0\right)\end{array}\right.

Observa-e que, de facto,

\chi=x\left(\chi^0,k,t-t_0\right)

Considere-se agora o movimento de uma partícula num campo central de forças descrito pela função

L=\frac{1}{2}m\left(x'^2+y'^2+z'^2\right)-U\left(\sqrt{x^2+y^2+z^2}\right)

A transformação de coordenadas da forma

\left\lbrace\begin{array}{l}x=\chi\cos\theta+\eta\sin\theta\\ y=-\chi\sin\theta+\eta\cos\theta\\ z=\zeta\end{array}\right.

considerando que

\left\lbrace\begin{array}{l}x'=\chi'\cos\theta+\eta'\sin\theta\\ y'=-\chi'\sin\theta+\eta'\cos\theta\\ z'=\zeta'\end{array}\right.

reduz L à mesma forma, nomeadamente,

L=\frac{1}{2}m\left(\chi'^2+\eta'^2+\zeta'^2\right)-U\left(\sqrt{\chi^2+\eta^2+\zeta^2}\right)

De acordo com o que foi atrás discutido, conserva-se a quantidade

l_3=\frac{\partial L}{\partial x'}\frac{\partial x}{\partial\theta}+\frac{\partial L}{\partial y'}\frac{\partial y}{\partial\theta}+\frac{\partial L}{\partial z'}\frac{\partial z}{\partial\theta}

onde se faz \theta=0, advindo, neste caso, \chi=x e \eta=y após a derivação. Conserva-se a quantidade

l_3=x'y-y'x=\chi'\eta-\eta'\chi

Observa-se que a transformação considerada corresponde a uma rotação em torno do eixo das quotas. Se se considerarem as rotações em torno dos eixos das ordenadas e das abcissas, dado que a forma de L se mantém nesses casos, verifica-se que são invariantes as quantidades

\left\lbrace\begin{array}{l}l_1=y'z-z'y\\ l_2=z'x-x'z\\ l_3=x'y-y'x\end{array}\right.

Trata-se das componentes do vector momento angular que se conservam no caso de uma partícula que se move num campo central de forças. Uma solução geral do problema mecânico é dada por

\vec{r}=\vec{r}\left(\vec{r}_0,\vec{l}_0,t-t_0\right)

onde \vec{r}=(x,y,z) e \vec{l}=\left(l_1,l_2,l_3\right), uma vez que as velocidades iniciais podem ser escritas como função dos invariantes e das posições iniciais. Da invariância de L mediante uma rotação segue-se que, sendo R o operador rotação então, se \vec{r} for uma solução do problema, R\vec{r} é outra solução do problema e, portanto,

R\vec{r}=\vec{r}\left(R\vec{r}_0,R\vec{l},t-t_0\right)

uma vez que uma rotação de \vec{r} corresponde a uma rotação de \vec{l}. Se se determinar as soluções gerais para o caso em que l_1=l_2=0 então as demais soluções constroem-se a partir destas por intermédio da aplicação de uma rotação. As condições consideradas implicam, em particular, que z=0 e as soluções a determinar são aquelas que se dão sobre o plano horizontal.