Algumas bicicletas, em particular as pasteleiras, trazem um dínamo que permite gerar uma corrente eléctrica quando lhe é transferido movimento da roda da frente. Um circuíto eléctrico é montado, tendo o dínamo como gerador que alimenta um farol com um selector que permite regular a intensidade da luz. Porém, quanto maior for a intensidade da luz definida no selector, maior será a resistência ao movimento da roda da frente causado pelo dínamo. Este facto pode ser explicado com base na lei da conservação da energia. Com efeito, desprezando outras formas de dissipação, a energia dissipada pela lâmpada advém do trabalho realizado pela força que a roda da bicicleta exerce sobre o dínamo. A força total necessária para manter a bicicleta a uma velocidade constante terá, portanto, de incluir a parte da força responsável por acender a lâmpada.
É interessante averiguar, do ponto de vista do electromagnetismo, qual é a origem dessa força, considerando, como aproximação, uma espira que se encontra a rodar num campo mangético uniforme. Nos exercícios habituais, calcula-se a força electromotriz produzida na espira pela rotação. No entanto, não é tão frequente encontrar uma determinação da força aplicada sobre a espira quando o circuito eléctrico é fechado por uma resistência. Será aqui feito um esboço dessa determinação.
Considere-se a espira circular de raio ρ definida pelas equações paramétricas
{x=ρcosλy=0z=ρsinλ
que se supõe rodar, com velocidade angular constante ω, em torno do eixo das cotas. Ao fim do tempo t, cada ponto da espira parametrizado pelo parâmetro λ, encontrar-se-á na posição dada por
{x=ρcosλcos(ωt)y=ρcosλsin(ωt)z=ρsinλ
O vector tangente à espira é dado pela derivada da posição em ordem ao parâmetro λ, isto é,
{∂x∂λ=−ρsinλcos(ωt)∂y∂λ=−ρsinλsin(ωt)∂z∂λ=ρcosλ
O produto vectorial da posição pelo vector tangente permite determinar a direcção da normal ao círculo definido pelo condutor. Tem-se, portanto,
|→i→j→kρcosλcos(ωt)ρcosλsin(ωt)ρcosλ|=ρsin(ωt)→i−ρcos(ωt)→j
onde →i, →j e →k são, respectivamente, os versores ao longo do eixo das abcissas, do das ordenadas e do das cotas. O versor normal é dado, portanto, por
→n=sin(ωt)→i−cos(ωt)→j
Seja →B=B→j o campo magnético que se supõe uniforme e direccionado ao longo do eixo das ordenadas. O fluxo ϕ do campo sobre o círculo definido pelo condutor é dado por
ϕ=∫S→B⋅→ndS=∫SB→j⋅(sin(ωt)→i−cos(ωt)→j)dS
isto é,
ϕ=−πρ2Bcos(ωt)
A força electromotriz obtém-se a partir da variação temporal do fluxo do campo magnético ao longo da superfície. Esta é dada por
E=−dϕdt=−πρ2Bωsin(ωt)
Se a espira constituir um circuito eléctrico fechado através de uma resistência R, a sua intensidade será dada por
I=−ER=−1Rπρ2Bωsin(ωt)
Ora,
d→l=−ρsinλcos(ωt)→i−ρsinλsin(ωt)→j+ρcosλ→k
A força de interacção entre a corrente que se desloca sobre a espira e o campo magnético calcula-se como
→FB=Id→l×→B=−1Rπρ3Bωsin(ωt)|→i→j→k−sinλcos(ωt)−sinλsin(ωt)cosλ|
isto é,
→FB=−1Rπρ3B2ωsin(ωt)(cosλ→i−sinλcos(ωt))
Para que a espira mantenha uma velocidade de rotação constante é necessária a aplicação de uma força →F=−→FB em cada um dos seus pontos. O trabalho total realizado pela força →F durante o intervalo de tempo t é dado por
W=∫2π0∫t0→F⋅d→rdλ
isto é,
dWdt=∫2π0→F⋅d→rdtdλ
onde, calculando a derivada da posição de cada elemento da espira em ordem ao tempo,
d→rdt=−ρωcosλsin(ωt)→i+ρωcosλcos(ωt)→j
O trabalho desenvolvido pela força que deverá ser aplicada à espira para que esta mantenha a sua velocidade angular constante por unidade de tempo é dado por
dWdt=∫2π01Rπρ4B2ω2sin2(ωt)cos2λdλ=EI
Este resultado está de acordo com o princípio da conservação da energia, uma vez que EI proporciona a potência dissipada pela resistência.