Em óptica, um sistema de raios de segunda ordem consiste num conjunto de linhas cuja parametrização é dada por dois parâmetros. Se designarmos por →n os vectores de norma unitária que definem as direcções das linhas de um sistema então este é de segunda ordem se, a cada ponto do espaço (x,y,z), corresponder apenas uma direcção →n(x,y,z). De facto, a equação vectorial de uma recta geral pode ser escrita na forma
(x,y,z)=(a,b,c)+λ(u1,u2,u3)
Vemos tratar-se de uma família parametrizda por seis parâmetros. No entanto, diferentes parâmetros representam a mesma recta. Em primeiro lugar, tanto →u=(u1,u2,u3) como α→u para algum α constante parametrizam a mesma recta. Podemos considerar portanto que o vector →u possui norma unitária. A mesma equação pode descrever a mesma recta para diferentes pontos. Com efeito, considerando um novo ponto (a1,b1,c1) na recta, temos
(x,y,z)=(a1,b1,c1)+λ1(u1,u2,u3)
Como o ponto pertence à recta então verifica a equação
(a1,b1,c1)=(a,b,c)+λ(u1,u2,u3)
para algum λ. Se considerarmos a representação
(a1−a,b1−b,c1−c)=α→v1+β→v2+λu
onde →v1, →v2 e →v3 são linearmente independentes, verificarmos imediatamente que ambas as equações representam a mesma recta se e só se α=β=0. O conjunto de todas as rectas pode, portanto, ser representado pela família de equações
(x,y,z)=(a,b,c)+α→v1+β→v2+λ(u1,u2,u3)
onde (a,b,c) é um ponto escolhido arbitrariamente que consideramos ser a origem. Assim, todas as rectas podem ser representadas pela família de equações
(x,y,z)=α→v1+β→v2+λ(u1,u2,u3)
onde os vectores →v1 e →v2 são escolhidos em função de →u. A família de todas as rectas é, portanto, definida por quatro parâmetros onde dois deles definem a direcção e os outros dois, a posição. Se a direcção for dada em função da posição, apenas os dois parâmetros que lhe estão associados são considerados, tratando-se de um sistema de segunda ordem.
Um sistema de segunda ordem diz-se ter congruência normal se for possível encontrar uma superfície que seja normal a todos os seus raios. A importância desta definição reside no teorema de Mauls-Dupin onde é afirmado que a congruência normal se mantém após uma sequência finita de reflexões e refracções. Se essa superfície possuir equação f(x,y,z)=k com k contante, sabemos que a condição para que esta seja normal a todos os raios é
→∇f=λ→n
onde →n constitui a direcção do raio associado ao ponto de incidência. A função característica U foi definida por Hamilton de tal forma que
→n=→∇U
É interessante mostrar que esta definição não é desprovida de sentido. Ora, de →∇f=λ→n concluímos
→∇×(λ→n)=0=→∇λ×→n+λ→∇×→n
Como →n⋅→n=1 segue-se que (→n⋅→∇)→n=0 e, da identidade
12→∇(→n⋅→n)=(→n⋅→∇)→n+→n×→∇×→n
obtemos →n×→∇×→n=0. A mesma identidade, como λ→n no lugar de →n fica na forma
12→∇λ2=λ(→n⋅→∇)(λ→n)+λ2→n×→∇×→n
Segue-se que
→∇λ=(→n⋅→∇)(λ→n)
Mas como
(→n⋅→∇)(λ→n)=λ(→n⋅→∇)→n+(→n⋅→∇λ)→n
então, porque (→n⋅→∇)→n=0 ficamos com
(→n⋅→∇)(λ→n)=(→n⋅→∇λ)→n
Concluímos que →∇λ×→n=0 e, como →∇λ×→n+λ→∇×→n=0, também
→∇×→n=0
Segue-se daqui que é possível encontrar uma função U tal que →∇U=→n, como pretendido.