Um ponto definido pelo vector →ρ=(x,y,z) é representado, em coordenadas esféricas, pelos parâmetros (r,θ,ϕ) de acordo com a transformação
{x=rcosθsinϕy=rsinθsinϕz=rcosϕ
O conjunto de equações θ=const., ϕ=const define uma curva. Definimos →er como sendo o vector unitário com a direcção da tangente à curva. Concluímos, portanto, que
→er=(cosθsinϕ,sinθsinϕ,cosϕ)
Do mesmo modo, construímos os vectores unitários cuja direcção se encontra ao longo da tagente das curvas sobre as quais variam apenas θ e ϕ, isto é,
eθ=(−sinθ,cosθ,0)(cosθcosϕ,sinθcosϕ,−sinϕ)
Se a posição de um corpo for representada pelo vector →ρ=(x,y,z), no novo sistema de coordenadas será representada por →ρ=r→er. A sua velocidade será dada por
d→ρdt=drdt→er+rdθdtsinϕ→eθ+rdϕdt→eϕ
e a sua aceleração será, portanto,
d2→ρdt2=[d2rdt2−rsinϕ(dθdt)2+r(dϕdt)2]→er++[ddt(rdθdtsinϕ)+rsinϕdrdtdθdt+rcosϕdθdtdϕdt]→eθ++[ddt(rdϕdt)+drdtdϕdt−r(dθdt)2sinϕcosϕ]→eϕ
Se →Fr, →Fθ e →Fϕ forem as componentes da resultante das forças que actuam na partícula segundo as direcções dos vectores →er, →eθ e →eϕ então as equações do movimento baseadas na segunda lei de Newton escrevem-se como
{d2rdt2−rsinϕ(dθdt)2+r(dϕdt)2=→Frmddt(rdθdtsinϕ)+rsinϕdrdtdθdt+rcosϕdθdtdϕdt=→Fθmddt(rdϕdt)+drdtdϕdt−r(dθdt)2sinϕcosϕ=→Fϕm
Iremos agora determinar a forma da resultante das forças que actuam num corpo que se move de acordo com as leis de Kepler. Estas são:
1) O corpo move-se ao longo de uma elipse.
2) O raio vector definido por um dos focos da elipse e o corpo varre áreas iguais em intervalos de tempo iguais.
3) O quadrado do período de revolução do movimento é directamente proporcional ao cubo do semi-eixo maior da elipse.
Começamos por observar que, sendo ϕ=π2 constante, então o sistema de equações diferenciais reduz-se a
{d2rdt2−r(dθdt)2=→Frmrd2θdt2+2drdtdθdt=→Fθm0=→Fϕm
Analisemos agora a segunda lei. Ora, a área de uma superfície S é dada pelo integral
A=∬
Quando superfície S é dada por uma equação da forma r=r(\theta), o integral duplo reduz-se a
A=\frac{1}{2}\int_{\theta_0}^{\theta}{r^2d\theta}
seguindo-se
\frac{dA}{dt}=\frac{1}{2}r^2\frac{d\theta}{dt}=const.
e, consequentemente,
\frac{d^2A}{dt^2}=r\frac{dr}{dt}\frac{d\theta}{dt}+\frac{r^2}{2}\frac{d^2\theta}{dt^2}=0
Vimos imediatamente que
\left\lbrace \begin{array}{l} \frac{d^2r}{dt^2}-r\left(\frac{d\theta}{dt}\right)^2=\frac{\vec{F}_r}{m}\\ 0=\frac{\vec{F}_\theta}{m}\\ 0=\frac{\vec{F}_\phi}{m} \end{array} \right.
A segunda lei só pode ser satisfeita se a força exercida no corpo for central, isto é, possuir a direcção do raio vector. Para obtermos a forma da força radial, começamos por determinar a equação da elipse que possui o foco na origem em coordenadas esféricas, supondo que esta se encontra no plano horizontal \phi=\frac{\pi}{2}. A distância do foco que se encontra na origem ao corpo é igual a r. O teorema de Carnot aplicado ao triângulo formado pelos focos e o corpo permite-nos concluir que a distância do segundo corpo ao foco é igual a
\sqrt{r^2+4f^2+4fr\cos\theta}
sendo 2f a distância interfocal. Como a elipse é o lugar geométrico de todos os pontos cuja soma das distâncias destes a ambos os focos é igual ao comprimento do eixo maior, temos
r+\sqrt{r^2+4f^2+4fr\cos\theta}=2a
onde a corresponde ao comprimento do semi-eixo maior. Se subtrairmos r a cada um dos membros, quadrarmos e simplificarmos, obtemos
r\left(a+f\cos\theta\right)=a^2-f^2
Se e=\frac{f}{a} for a excentricidade, temos
r=\frac{a\left(1-e^2\right)}{1+e\cos\theta}
Se utilizarmos a abreviação \psi=a\left(1-e^2\right), a equação da elipse escreve-se como
r=\frac{\psi}{1+e\cos\theta}
ou
e\cos\theta=\frac{\psi}{r}-1
Derivamos a equação em ordem ao parâmetro t, vindo
\frac{dr}{dt}=\frac{\psi e\sin\theta}{\left(1+e\cos\theta\right)^2}=\frac{r^2}{\psi}e\sin\theta\frac{d\theta}{dt}
A segunda derivada fica, por seu turno, na forma
\frac{d^2r}{dt^2}=\frac{r}{\psi}e\sin\theta\left(r\frac{d^2\theta}{dt^2}+2\frac{dr}{dt}\frac{d\theta}{dt}\right)+r\left(\frac{d\theta}{dt}\right)^2-\frac{r^2}{\psi}\left(\frac{d\theta}{dt}\right)^2
Como, de acordo com a segunda lei temos \frac{d\theta}{dt}=\frac{k}{r^2}, com k constante, então
\frac{d^2r}{dt^2}-r\left(\frac{d\theta}{dt}\right)^2=-\frac{k^2}{\psi}\frac{1}{r^2}
isto é,
\vec{F}_r=-\frac{k^2}{\psi}\frac{1}{r^2}
Trata-se da famosa lei da gravitação.
A consequência da terceira lei, apesar de subtil, é deveras interessante. Segue-se a seguinte equação diferencial da lei das áreas:
\frac{d\theta}{dt}=\frac{k}{r^2}=\frac{k}{\psi^2}\left(1+e\cos\theta\right)^2
Sendo uma equação separável, podemos escrever
\int_0^{2\pi}{\frac{1}{2}\frac{\psi^2}{\left(1+e\cos\theta\right)^2}d\theta}=\frac{kT}{2}
onde T representa o período da órbita. O integrando na equação anterior constitui uma função racional de funções trigonométricas e pode ser resolvido com o auxílio dos métodos habituais. No entanto, representando a área de uma elipse, o seu valor é dado por \pi ab e a equação reduz-se a
\pi ab=\frac{kT}{2}
ou
\pi a\sqrt{a^2-f^2}=\frac{kT}{2}
Se quadrarmos, ficamos com
\pi^2a^2\left(1-e^2\right)=\frac{k^2T^2}{4}
isto é,
\pi^2a^3\psi=\frac{k^2T^2}{4}
Concluímos desta forma que
\psi=\frac{k^2}{4\pi^2}\frac{T^2}{a^3}
e, portanto, a constante \psi que figura na forma da força central não depende dos parâmetros da órbita.
{x=rcosθsinϕy=rsinθsinϕz=rcosϕ
O conjunto de equações θ=const., ϕ=const define uma curva. Definimos →er como sendo o vector unitário com a direcção da tangente à curva. Concluímos, portanto, que
→er=(cosθsinϕ,sinθsinϕ,cosϕ)
Do mesmo modo, construímos os vectores unitários cuja direcção se encontra ao longo da tagente das curvas sobre as quais variam apenas θ e ϕ, isto é,
eθ=(−sinθ,cosθ,0)(cosθcosϕ,sinθcosϕ,−sinϕ)
Se a posição de um corpo for representada pelo vector →ρ=(x,y,z), no novo sistema de coordenadas será representada por →ρ=r→er. A sua velocidade será dada por
d→ρdt=drdt→er+rdθdtsinϕ→eθ+rdϕdt→eϕ
e a sua aceleração será, portanto,
d2→ρdt2=[d2rdt2−rsinϕ(dθdt)2+r(dϕdt)2]→er++[ddt(rdθdtsinϕ)+rsinϕdrdtdθdt+rcosϕdθdtdϕdt]→eθ++[ddt(rdϕdt)+drdtdϕdt−r(dθdt)2sinϕcosϕ]→eϕ
Se →Fr, →Fθ e →Fϕ forem as componentes da resultante das forças que actuam na partícula segundo as direcções dos vectores →er, →eθ e →eϕ então as equações do movimento baseadas na segunda lei de Newton escrevem-se como
{d2rdt2−rsinϕ(dθdt)2+r(dϕdt)2=→Frmddt(rdθdtsinϕ)+rsinϕdrdtdθdt+rcosϕdθdtdϕdt=→Fθmddt(rdϕdt)+drdtdϕdt−r(dθdt)2sinϕcosϕ=→Fϕm
Iremos agora determinar a forma da resultante das forças que actuam num corpo que se move de acordo com as leis de Kepler. Estas são:
1) O corpo move-se ao longo de uma elipse.
2) O raio vector definido por um dos focos da elipse e o corpo varre áreas iguais em intervalos de tempo iguais.
3) O quadrado do período de revolução do movimento é directamente proporcional ao cubo do semi-eixo maior da elipse.
Começamos por observar que, sendo ϕ=π2 constante, então o sistema de equações diferenciais reduz-se a
{d2rdt2−r(dθdt)2=→Frmrd2θdt2+2drdtdθdt=→Fθm0=→Fϕm
Analisemos agora a segunda lei. Ora, a área de uma superfície S é dada pelo integral
A=∬
Quando superfície S é dada por uma equação da forma r=r(\theta), o integral duplo reduz-se a
A=\frac{1}{2}\int_{\theta_0}^{\theta}{r^2d\theta}
seguindo-se
\frac{dA}{dt}=\frac{1}{2}r^2\frac{d\theta}{dt}=const.
e, consequentemente,
\frac{d^2A}{dt^2}=r\frac{dr}{dt}\frac{d\theta}{dt}+\frac{r^2}{2}\frac{d^2\theta}{dt^2}=0
Vimos imediatamente que
\left\lbrace \begin{array}{l} \frac{d^2r}{dt^2}-r\left(\frac{d\theta}{dt}\right)^2=\frac{\vec{F}_r}{m}\\ 0=\frac{\vec{F}_\theta}{m}\\ 0=\frac{\vec{F}_\phi}{m} \end{array} \right.
A segunda lei só pode ser satisfeita se a força exercida no corpo for central, isto é, possuir a direcção do raio vector. Para obtermos a forma da força radial, começamos por determinar a equação da elipse que possui o foco na origem em coordenadas esféricas, supondo que esta se encontra no plano horizontal \phi=\frac{\pi}{2}. A distância do foco que se encontra na origem ao corpo é igual a r. O teorema de Carnot aplicado ao triângulo formado pelos focos e o corpo permite-nos concluir que a distância do segundo corpo ao foco é igual a
\sqrt{r^2+4f^2+4fr\cos\theta}
sendo 2f a distância interfocal. Como a elipse é o lugar geométrico de todos os pontos cuja soma das distâncias destes a ambos os focos é igual ao comprimento do eixo maior, temos
r+\sqrt{r^2+4f^2+4fr\cos\theta}=2a
onde a corresponde ao comprimento do semi-eixo maior. Se subtrairmos r a cada um dos membros, quadrarmos e simplificarmos, obtemos
r\left(a+f\cos\theta\right)=a^2-f^2
Se e=\frac{f}{a} for a excentricidade, temos
r=\frac{a\left(1-e^2\right)}{1+e\cos\theta}
Se utilizarmos a abreviação \psi=a\left(1-e^2\right), a equação da elipse escreve-se como
r=\frac{\psi}{1+e\cos\theta}
ou
e\cos\theta=\frac{\psi}{r}-1
Derivamos a equação em ordem ao parâmetro t, vindo
\frac{dr}{dt}=\frac{\psi e\sin\theta}{\left(1+e\cos\theta\right)^2}=\frac{r^2}{\psi}e\sin\theta\frac{d\theta}{dt}
A segunda derivada fica, por seu turno, na forma
\frac{d^2r}{dt^2}=\frac{r}{\psi}e\sin\theta\left(r\frac{d^2\theta}{dt^2}+2\frac{dr}{dt}\frac{d\theta}{dt}\right)+r\left(\frac{d\theta}{dt}\right)^2-\frac{r^2}{\psi}\left(\frac{d\theta}{dt}\right)^2
Como, de acordo com a segunda lei temos \frac{d\theta}{dt}=\frac{k}{r^2}, com k constante, então
\frac{d^2r}{dt^2}-r\left(\frac{d\theta}{dt}\right)^2=-\frac{k^2}{\psi}\frac{1}{r^2}
isto é,
\vec{F}_r=-\frac{k^2}{\psi}\frac{1}{r^2}
Trata-se da famosa lei da gravitação.
A consequência da terceira lei, apesar de subtil, é deveras interessante. Segue-se a seguinte equação diferencial da lei das áreas:
\frac{d\theta}{dt}=\frac{k}{r^2}=\frac{k}{\psi^2}\left(1+e\cos\theta\right)^2
Sendo uma equação separável, podemos escrever
\int_0^{2\pi}{\frac{1}{2}\frac{\psi^2}{\left(1+e\cos\theta\right)^2}d\theta}=\frac{kT}{2}
onde T representa o período da órbita. O integrando na equação anterior constitui uma função racional de funções trigonométricas e pode ser resolvido com o auxílio dos métodos habituais. No entanto, representando a área de uma elipse, o seu valor é dado por \pi ab e a equação reduz-se a
\pi ab=\frac{kT}{2}
ou
\pi a\sqrt{a^2-f^2}=\frac{kT}{2}
Se quadrarmos, ficamos com
\pi^2a^2\left(1-e^2\right)=\frac{k^2T^2}{4}
isto é,
\pi^2a^3\psi=\frac{k^2T^2}{4}
Concluímos desta forma que
\psi=\frac{k^2}{4\pi^2}\frac{T^2}{a^3}
e, portanto, a constante \psi que figura na forma da força central não depende dos parâmetros da órbita.