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quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Teoria probabilística dos erros de medição

A medição de uma quantidade não pode ser despida de imprecisões ou incertezas, quer seja devido às limitações técnicas dos aparelhos ou técnicas usadas, ao confluir de uma série de factores que dificultam a sua execução ou a qualquer outra situação adversa. Distinguem-se dois tipos de erros, nomeadamente, os erros aleatórios e os erros sistemáticos. Os erros aleatórios devem-se ao conjunto de factores que não estão submetidos ao controlo do experimentador, variando entre medições. Os erros sistemáticos resultam de processos inválidos de medição e são transversais a todas as medições efectuadas mediante esses mesmos processos.
Os erros sistemáticos poderão ser eliminados pela correcção dos processos de medição ao contrário dos erros aleatórios. Interessa, pois, estudar o quão precisa é uma medição, sabendo que esta se encontra sujeita a erros aleatórios. Seja x uma grandeza que se pretenda medir e yi, com i=1,,n, um conjunto de n valores medidos da grandeza x. Supondo que o processo de medição não introduz erros sistemáticos, é possível escrever yix=δi onde δi representa o erro aleatório. Pretende-se determinar a função que permite determinar a probabilidade de um erro δ de uma medição se encontrar no intervalo (a,b).
De acordo com os processos habituais da teoria das probabilidades, é pretendido a obtenção da forma da função φ(δ) tal que a probabilidade P(a<δ<b) do erro δ se encontrar confinado ao intervalo (a,b) seja dada por
P(a<δ<b)=baφ(δ)dδ
De modo a que φ(δ) seja uma distribuição, tem de ser verificada a relação
+φ(δ)dδ=1
Para possibilitar a determinação da forma da distribuição, é necessária a introdução das hipóteses simplificativas:


  1. Erros com a mesma magnitude são igualmente prováveis, isto é, φ(δ)=φ(δ).
  2. A probabilidade é máxima para δ=0.
  3. A probabilidade da ocorrência de um erro suficientemente grande é nula.
  4. A função de distribuição é contínua (hipótese simplificativa).

Se for efectuada uma série de n medições a probabilidade que os seus valores sejam yi, i=1,2,,n sabendo que o valor da grandeza se encontra cingido ao intervalo infinitesimal compreendido entre x e x+dx é dada por
φ(xy1)φ(xy2)φ(xyn)dx=Ωdx
Foi aqui assumido que as medições são processos estocásticos independentes.
Como é pretendita a probabilidade do valor da grandeza se encontrar no intervalo (x,x+dx), sabendo que os valores medidos são yi, é útil o recorrer ao conhecido conceito da probabilidade condicionada. Assim, se p(y|x) representar a probabilidade das medições proporcionarem os valores yi sabendo que x se encontra no intervalo compreendido entre x e x+dx, tem-se
p(x|y)p(y)=p(y|x)p(x)
Se for efectuado um novo processo de medição, a probabilidade da grandeza a ser medida se encontrar no intervalo (x,x+dx) será a mesma, uma vez que não depende do processo. É seguro, também, assumir que a probabilidade de o conjunto de valores ser yi, i=1,2,,n não depende do processo e seja, portanto, igual à probabilidade anterior. Assim,
p(x|y)p(x|y)=p(y|x)p(y|x)
Segue-se daqui que
p(x|y)=λΩdx
O valor mais provável da grandeza é aquele para o qual o erro é nulo, isto é, é aquele que maximiza a função Ω. Este valor satisfaz, portanto, a equação
ni=1Ωδidδidx
Para determinar uma forma para a função de distribuição é necessária a introdução da hipótese adicional de que o valor mais provável μ corresponde à média, isto é,
μ=1nni=1yi
Ora, como
Ωδi=Ωφ(δi)dφdδ|δ=δi
e δi=μyi, segue-se que
ni=11φ(yiμ)dφdδ|δ=yiμ
Como o resultado das medições pode ser arbitrário, analise-se o sistema de valores yi da forma
y2=y3==yn=y1nm
sendo m um valor escolhido aleatoriamente. Este sistema de valores proporciona
μ=y1(n1)m
A substituição na equação anterior conduz ao resultado
1φ((n1)m)dφdδ|δ=(n1)m=(n1)1φ(m)dφdδ|δ=m
Denotando por f(m) a função
1φ(m)dφdδ|δ=m
verifica-se facilmente que esta satisfaz a identidade f((n1)m)=(n1)f(m). Não é difícil constatar que f(0)=0, f(n1)=(n1)f(1), fazendo m=0 e m=1 na identidade. Fazendo m=rn1α obtém-se
f(rn1α)=rn1f(α)
Segue-se daqui que f(m)=rm onde r=f(1) para qualquer valor racional de m. Como f é contínua, a sua forma estende-se para todos os valores de m reais. Assim,
1φ(m)dφdr=dlogφ(m)dr=rm
cuja solução é dada por
φ(m)=Ae12rm2
Como a probabilidade de erros suficientemente grandes tende a anular-se, então r=2k2<0. Além disso, como
+ek2m2dm=πk
a função de distribuição fica da forma
φ(m)=kπek2m2
Esta é conhecida como a distribuição normal.