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quarta-feira, 27 de maio de 2015

Tradução e resumo de alguns artigos conhecidos

Alguns dos artigos que tenho vindo a traduzir ao longo do tempo:
Sobre a Teoria Quântica das linhas espectrais por Bohr, no qual o autor estende a sua teoria dos estados estacionários do átomo de hidrogénio aos sistemas condicionalmente periódicos.
A lei da dispersão da teoria de Bohr do espectro e A teoria quântica da dispersão por Krammers desempenharam um papel importante no desenvolvimento da Teoria Quântica anterior à Mecânica das Matrizes e à Teoria Ondulatória.
Como infelizmente ainda não sou capaz de ler alemão, tentei apenas identificar os pontos essenciais até à teoria do último multiplicador, exposta por Jacobi nas suas famosas Lições sobre Dinâmica. Ficou de fora a teoria das transformações canónicas, que espero aqui vir a incluir mais tarde.

sábado, 2 de maio de 2015

As leis da reflexão e refracção em forma vectorial

Aqui há tempos publiquei um texto sobre a dedução da lei da refracção a partir do princípio do menor tempo (ver aqui). Agora, apresentarei uma demonstração semelhante da qual resultam as mesmas leis na forma vectorial.

A lei da reflexão na forma vectorial

Suponhamos que um raio de luz parte do ponto A, é reflectido no ponto P de uma superfície no espaço e chega ao ponto B. Se o raio viajar sempre no mesmo meio, o tempo de viagem entre os pontos A e B é dado por
τ=1c(
onde \vec{r}_A=\left(x_A,y_A,z_A\right) e \vec{r}_B=\left(x_B,y_B,z_B\right) nos dão respectivamente as coordenadas dos pontos A e B e
\vec{r}_P=\left(x(u,v),y(u,v),z(u,v)\right)
dá-nos as coordenadas do ponto P mapeada pelos parâmetros u e v da superfície. O ponto P que minimiza o tempo percorrido pelo raio de luz é aquele que satisfaz as equações
\left\lbrace\begin{matrix}\frac{d\tau}{du}=0\\ \frac{d\tau}{dv}=0\end{matrix}\right.
Se definirmos
\begin{matrix}\vec{i}=\frac{\vec{r}_P-\vec{r}_A}{\left\|\vec{r}_P-\vec{r}_A\right\|}, & \vec{r}=\frac{\vec{r}_B-\vec{r}_P}{\left\|\vec{r}_B-\vec{r}_P\right\|}\end{matrix}
o sistema anterior escreve-se na forma equivalente
\left\lbrace\begin{matrix}\left(\vec{i}-\vec{r}\right)\cdot\frac{\partial\vec{r}_P}{\partial u}=0\\ \left(\vec{i}-\vec{r}\right)\frac{\partial\vec{r}_P}{\partial v}=0\end{matrix}\right.
Este resultado permite-nos concluir que o vector \vec{i}-\vec{r} é colinear com a normal \vec{n} à superfície. Convencionamos que esta normal tem o sentido tal que \vec{i}\cdot\vec{n}<0. Sendo \alpha o factor da colinearidade, temos
\vec{i}-\vec{r}=\alpha\vec{n}
Se multiplicarmos escalarmente a equação por \vec{i} e \vec{r}, e somarmos obtemos a conhecida lei da reflexão, nomeadamente,
\vec{i}\cdot\vec{n}+\vec{r}\cdot\vec{n}=0
e, portanto,
\alpha=2\vec{i}\cdot\vec{n}
Por fim, a lei da reflexão na forma vectorial vem dada pela expressão
\vec{r}=\vec{i}-2\left(\vec{i}\cdot\vec{n}\right)\vec{n}

A lei da refracção na forma vectorial

Se designarmos por v_i a velocidade da luz no meio i e por c a sua velocidade no vazio, definimos o índice de refracção \eta_i associado ao meio i por intermédio da expressão
v_i=\frac{c}{\eta_i}
Se um raio partir do ponto A situado no meio 1, for refractado no ponto P de uma superfície de separação entre os meios e chega ao ponto B situado no meio 2, o tempo que este demora a realizar o percurso é dado por
\tau=\frac{1}{c}\left(\eta_1\|\vec{r}_P-\vec{r}_A\|+\eta_2\|\vec{r}_B-\vec{r}_P\|\right)
Se definirmos o versor de transferência pela expressão
\vec{t}=\frac{\vec{r}_B-\vec{r}_P}{\left\|\vec{r}_B-\vec{r}_P\right\|}
o processo de minimização habitual conduz-nos ao sistema de equações
\left\lbrace\begin{matrix}\left(\eta_1\vec{i}-\eta_2\vec{t}\right)\cdot\frac{\partial\vec{r}_P}{\partial u}=0\\ \left(\eta_1\vec{i}-\eta_2\vec{t}\right)\cdot\frac{\partial\vec{r}_P}{\partial v}=0\end{matrix}\right.
isto é,
\eta_1\vec{i}-\eta_2\vec{t}=k\vec{n}
Se aplicarmos, à equação, o produto externo por \vec{n}, obtemos a identidade
\eta_1\left(\vec{i}\times\vec{n}\right)=\eta_2\left(\vec{t}\times\vec{n}\right)
Como todos os vectores considerados nos produtos vectoriais possuem norma unitária, a expressão anterior resume-se em
\eta_1\sin{\alpha_1}=\eta_2\sin{\alpha_2}
onde \alpha_1 e \alpha_2 são os ângulos formados pelos vectores de incidência e de refracção com a normal à superfície, respectivamente. Esta é a famosa lei da refracção.
Para resolvermos o problema a que nos propusermos, teremos de determinar o valor de k. Voltemos então à equação de colinearidade
\eta_1\vec{i}-\eta_2\vec{t}=k\vec{n}
Multiplicamos escalarmente a equação por \eta_1\vec{i}, depois por \eta_2\vec{t}, somamos os resultados e reorganizamos os temos para obtermos
\eta_2\vec{t}\cdot\vec{n}=\frac{\eta_1^2-\eta_2^2}{k}-\eta_1\vec{i}\cdot\vec{n}
Se multiplicarmos escalarmente a mesma equação por \vec{n} obtemos
k=\eta_1\vec{i}\cdot\vec{n}-\eta_2\vec{t}\cdot\vec{n}
a qual, combinada com a equação anterior, nos proporciona a equação de segundo grau para k,
k^2-2k\eta_1\vec{i}\cdot\vec{n}+\eta_1^2-\eta_2^2=0
A fórmula resolvente permite-nos escrever
k=\eta_1\vec{i}\cdot\vec{n}\pm\sqrt{\eta_2^2-\eta_1^2\left(\vec{i}\times\vec{n}\right)^2}
uma vez que
\left(\vec{i}\times\vec{n}\right)^2=\left|\begin{matrix}\vec{i}\cdot\vec{i} & \vec{i}\cdot\vec{n}\\ \vec{n}\cdot\vec{i} & \vec{v}\cdot\vec{n}\end{matrix}\right|=1-\left(\vec{i}\cdot\vec{n}\right)^2
Tendo calculado o valor de k, temos então
\eta_1\vec{i}-\eta_2\vec{t}=\left(\eta_1\vec{i}\cdot\vec{n}\pm\sqrt{\eta_2^2-\eta_1^2\left(\vec{i}\times\vec{n}\right)^2}\right)\vec{n}
Resta-nos determinar qual das soluções para k nos proporciona a expressão correcta. Para o efeito, multiplicamos escalarmente a equação anterior por \vec{n}, surgindo a identidade
-\eta_2\vec{n}\cdot\vec{t}=\pm\sqrt{\eta_2^2-\eta_1^2\left(\vec{i}\times\vec{n}\right)^2}
Como estamos a considerar que o raio de luz se move no sentido do meio com índice de refracção \eta_2 e o vector normal aponta no sentido do outro meio, concluímos que nos interessa a solução com o sinal positivo, isto é,
\eta_1\vec{i}-\eta_2\vec{t}=\left(\eta_1\vec{i}\cdot\vec{n}+\sqrt{\eta_2^2-\eta_1^2\left(\vec{i}\times\vec{n}\right)^2}\right)\vec{n}
ou
\vec{t}=\frac{\eta_1}{\eta_2}\vec{i}-\frac{1}{\eta_2}\left(\eta_1\vec{i}\cdot\vec{n}+\sqrt{\eta_2^2-\eta_1^2\left(\vec{i}\times\vec{n}\right)^2}\right)
se pretendermos determinar a direcção do raio refractado, conhecendo as direcções dos raios incidente e normal.

Ângulo crítico

A fórmula da refracção atrás apresentada vale apenas no domínio
\eta_2^2-\eta_1^2\left(\vec{i}\times\vec{n}\right)\ge0
Ora, se considerarmos um raio que incida na superfície paralelamente à direcção normal, o raio refractado será dado por \vec{t}=\vec{i}. À medida que o raio de incidência se afasta da normal, o raio refractado afasta-se da normal até que seja atingido o ângulo de incidência \theta_i tal que
\sin\theta_i=\frac{\eta_2}{\eta_1}
Nestas condições vale a identidade
\vec{t}=\frac{\eta_1}{\eta_2}\left\lbrack \vec{i}-\left(\vec{i}\cdot\vec{n}\right)\vec{n}\right\rbrack
Para um ângulo \theta_i nestas condições, designado por ângulo crítico, temos \vec{t}\cdot\vec{n}=0, isto é, o raio refractado tem a direcção tangente à superfície. Todos os raios que incidam na superfície, fazendo um ângulo com a normal superior ao ângulo crítico, são reflectidos.