A equação de onda é uma equação diferencial parcial de segunda ordem e linear cuja importância em física é amplamente conhecida. Historicamente, foi primeiramente escrita por D'Alembert aquando das suas investigações sobre o problema das cordas vibrantes mas encontra aplicações na descrição de fenómenos de propagação em campos como acústica, óptica e dinâmica dos fluidos. O problema das cordas vibrantes foi também estudado por Euler, Daniel Bernoulli e Lagrange, estando na base de uma das mais interessantes disputas, a meu ver, na história da matemática. Na contenda estavam em jogo dois conceitos que viriam a ser cruciais no desenvolvimento da análise do século seguinte: a noção de função e continuidade de uma função, e as séries trigonométricas. No que se segue pretendo apenas apresentar o método que conduziu D'Alembert à sua solução.
Supunhamos que submetemos uma corda que se encontra esticada entre as suas duas extremidades a um pequeno deslocamento. Se a soltarmos, verificamos que esta irá entrar em vibração motivada pelas forças elásticas que tendem a contrariar essa perturbação. Assumindo que escolhemos um referencial rectangular de tal modo que a corda se encontre esticada ao longo do eixo das abcissas, então representaremos por y(x,t) a ordenada do ponto da corda com abcissa x no instante t. A equação fica da forma
∂2y∂t2−c2∂2y∂x2=0
Para a resolvermos, começamos por notar que dy=pdx+qdy onde p=∂y∂x e q=∂y∂t. Admintindo que y é uma função com todas as derivadas de segunda ordem contínuas temos
∂p∂t=∂q∂x
Com base nestas novas variáveis escrevemos a equação de onda como
∂q∂t=c2∂p∂x
Escrevemos os diferenciais de cada uma das novas funções introduzidas como
{dp=∂p∂xdx+∂p∂ydydq=∂q∂xdx+∂q∂ydy
Combinando o sistema de equações anterior com a equação de onda e a igualdade entre as derivadas cruzadas em p e q, obtemos
{d(cp)=∂(cp)∂xdx+∂p∂td(ct)dq=∂p∂tdx+∂(cp)∂xd(ct)
Somamos e subtraímos cada uma das equações anteriores para ficarmos com
{d(cp+q)=[∂(cp)∂x+∂p∂t]d(x+ct)d(cp−q)=[∂p∂t−∂(cp)∂x]d(x−ct)
Segue-se daqui que cp+q=f1(x+ct) e cp−q=f2(x−ct), de onde vem
{cp=f1(x+ct)+f2(x−ct)d(cp−q)=f1(x+ct)+f2(x−ct)
Porém, lembrando que dy=pdx+qdt, vem
d(cy)=f1(x+ct)d(x+ct)+f2(x−ct)d(x−ct)
Fazemos a mudança óbvia de coordenadas
{u=x+ctv=x−ct
cujo determinante do jacobiano vale −2c e é diferente de zero caso c também o seja. Reduzimos a equação de onda à forma d(cy)=f1(u)du+f2(v)dv. Como também
∂f1∂v=0=∂f2∂u
estamos portanto na presença de um diferencial total d(cy). Os métodos habituais de integração permite-nos facilmente concluir que
y(x,t)=F1(x+ct)+F2(x−ct)
Vemos que a solução geral da equação de onda se pode considerar como a sobreposição de duas ondas que se movem em sentidos opostos. O método aqui apresentado para obter a solução, excluindo a aplicação da notação mais moderna, aproxima-se bem daquele que foi utilizado originalmente.